terça-feira, 25 de agosto de 2009

MpD E O FUTURO


Os militantes do Movimento para a Democracia vão a votos nas directas de 11 de Outubro para escolherem o novo Presidente do partido. Aliás, o MpD foi a primeira organização política cabo-verdiana a adoptar esse sistema eleitoral, dando de alguma forma maior capacidade de escolha e de decisão às bases, elas sim, a verdadeira razão de ser do exercício da função política e pública.

A Convenção Nacional que irá escolher os novos dirigentes está marcada para o dia 30 do mesmo mês, a seguir ao conclave dos tambarinas, aprazado para os dias 23, 24 e 25 de Outubro. Outubro será, seguramente, um mês rico em termos de agenda política e de decisões importantes para os dois grandes pilares do sistema político cabo-verdiano.

Num momento em que três personalidades anunciaram a sua vontade em concorrer ao prestigiante cargo de líder da oposição e concomitantemente ao de Primeiro-Ministro, Jorge Santos, actual Presidente do partido, Carlos Veiga ex. Presidente do MpD e antigo Primeiro-Ministro e José Luís Livramento, ex. Ministro da Educação, diga-se, com obra feita nos anos noventa, o cenário aponta no sentido do entendimento necessário a favor da estabilidade institucional e da credibilização do partido junto da sociedade. É que o MpD precisa mostrar aos cabo-verdianos que é hoje, um partido estável, previsível, organizado e preparado para gerir processos eleitorais internos com tranquilidade, constituindo-se em alternativa clara e definitiva ao actual governo, que já vai dando sinais de fim de ciclo. O país precisa de um MpD forte para liderar o processo de mudança em 2011.


O ENTENDIMENTO NECESSSÁRIO


Fui, enquanto dirigente nacional, um dos defensores da disputa interna, enquanto factor de amadurecimento democrático do partido e de confrontação das grandes questões que se colocam ao MpD e aos cabo-verdianos, em tempos de incertezas e ameaças várias, resultado da conjuntura internacional e da complexificação da nossa sociedade. Hoje, confesso que há uma clara evolução do meu posicionamento sobre o processo conducente à IX Convenção Nacional. A leitura que eu faço, com humildade, é que os militantes do partido estão ansiosos e preocupados com uma possível confrontação entre os potenciais candidatos, sobretudo com as suas consequências no plano da coesão e unidade do partido, condição sine qua non para se competir com um adversário experiente e com vontade de consolidar o poder em 2011, missão nada fácil, se ativermos à actual situação socio-económica do país, mormente a incapacidade do Governo em dar respostas à problemática do emprego e do crescimento económico.

Os dirigentes do partido devem poder exprimir nas suas acções e decisões a vontade genuína das bases. O meu sentimento é que elas apelam para um entendimento que garanta a dignidade política e pessoal dos diversos actores do processo e capaz de transformar, definitivamente o MpD num partido coeso, forte e ao serviço dos cabo-verdianos. O actual processo interno exige desprendimento, humildade e entrega à causa pública, porque complexo e singular nos 19 anos de história do partido.

Estou convencido, nesta altura, que a melhor solução para o MpD será aquela que conduza ao entendimento e convergência de posicionamentos. Esta é, efectivamente, a realidade sociológica de um partido com o percurso do MpD, marcado por momentos de desconfiança e de cisões, que resultaram no surgimento de formações políticas, com a história que todos conhecemos. O actual processo interno deve ser, sobretudo, um processo de confiança e aglutinador de todas as vontades e competências de um grande partido como o MpD.


JORGE SANTOS: FIGURA INCONTORNÁVEL


Eleito a 10 de Setembro de 2006, através das primeiras directas no partido e no país, Jorge Santos assume-se hoje, pelo seu estatuto e percurso, como um político incontornável no MpD e em Cabo Verde. Foi, no meu modesto entendimento, um dos principais mentores do municipalismo cabo-verdiano e muito, provavelmente, o melhor autarca do país.

A forma sábia e desprendida como tem gerido o actual processo interno, mormente depois do anúncio de candidatura de Carlos Veiga, revela-nos uma personalidade com sentido do interesse do partido e do país, com grande preocupação com o cumprimento da agenda política e estabilidade institucional do partido.

O Líder do MpD, ao se mostrar aberto ao entendimento e convergência de ideias e projectos com os outros candidatos, mormente com o líder histórico, Carlos Veiga, demonstra generosidade e sentido de serviço público, características raras nos dias de hoje. O que para muitos, mal intencionados poderá significar fraqueza, para os Homens que fazem política com sentimento de serviço ao país e às pessoas simbolizará espírito elevado e magnanimidade.

Tenho por mim que Jorge Santos tem a noção exacta das consequências para a estabilidade do MpD, de uma possível disputa com Carlos Veiga. Sabe-se, que numa eventual confrontação, Santos contaria, seguramente, com o apoio de importantes dirigentes e sectores sociais e políticos e sobretudo, com os milhares de militantes espalhados pelo país e na diáspora, que reconhecem o excelente trabalho de organização e credibilização do partido, a oposição responsável e determinante, mormente em matérias que têm a ver com a transparência na gestão da coisa pública e igualmente, pelo excelente e histórico resultado obtido nas autárquicas de Maio de 2008.

Havendo o entendimento entre os actores do processo, defendo que a Jorge Santos deverá ser garantido espaço de destaque, condizente com o estatuto de um homem público comprometido com a causa da democracia e do país. O percurso feito pelo MpD nos últimos três anos não deve ser interrompido, pelo contrário, salvo correcções úteis e necessárias, ele deve ser consolidado. O momento é da consolidação dos ganhos e da estabilidade institucional do MpD.


CARLOS VEIGA E A RENOVAÇÃO DO MPD


O cenário projectado poderá conduzir Carlos Veiga à chefia do partido e candidato a Primeiro-Ministro nas legislativas de 2011. Quem conhece o MpD sabe, perfeitamente, que Veiga é uma figura com carisma e com grande implantação junto dos dirigentes e das bases. Ignorar esse facto é cometer um erro primário em matéria de sociologia política.

Tendo como argumento político do seu regresso à liderança do partido, a correcção dos erros do passado que levaram o partido à oposição em 2001 e a restituição da confiança dos cabo-verdianos no governo da República, mormente num momento de crise e dos desafios que se colocam ao país e ao mundo, Veiga tem a consciência plena dos riscos e da incompreensão da sua atitude junto de sectores do partido, e sobretudo, da sociedade civil.

Carlos Veiga sabe que não pode repetir os métodos do passado e que a margem de erro é ínfima. As decisões importantes e estratégicas devem basear-se em instrumentos científicos e no bom senso. O segredo estará no aproveitamento das grandes capacidades do partido e da sociedade civil. Só o apoio das bases poderá não chegar para ganhar eleições, mormente para um partido que pretenderá uma maioria absoluta, capaz de lhe garantir a estabilidade governativa.

A meu ver, um dos grandes desafios do futuro Presidente do MpD será, seguramente, garantir a renovação do MpD. O partido precisa apresentar-se perante os cabo-verdianos com novas atitudes e ideias de desenvolvimento e forma de se fazer política, sempre na linha da prestação do serviço público.

Estou convencido que o futuro Líder do MpD saberá integrar todas as “sensibilidades”, caso elas existam, quer nos órgãos do partido, quer nas listas para as legislativas. Felizmente, hoje o MpD tem uma retaguarda de dirigentes que deram um contributo inestimável para a democratização do país e para o seu desenvolvimento, permitindo o lançamento de jovens quadros e personalidades influentes da sociedade civil. O diálogo geracional afigura-se como um imperativo para um partido que quer ir às eleições coeso, pujante e confiante em protagonizar um processo de mudança política em 2011. É uma questão de atitude.


Lourenço Lopes

Cidade da Praia, 20 de Agosto de 2009.

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