quinta-feira, 1 de abril de 2010

As Minhas Escolhas da Quinzena: Fogo, a Saudade Perdida... Agostinho Lopes vs. José Filomeno


É obrigação da classe política transmitir esperança às pessoas,
sobretudo aquelas que mais necessitam da intervenção dos poderes públicos




Fogo, a Saudade Perdida

Depois de uma semana nos Mosteiros, confesso que durante esse período não pude acompanhar com a necessária regularidade e profundidade a actualidade, facto limitativo de uma abordagem consistente dos temas de natureza política, social ou económica. No entanto, não posso deixar de reconhecer, que o clima ameno de Feijoal ou a maresia da Vila da Igreja estimulam o diálogo com a natureza e a uma reflexão séria quanto humanista dos problemas sociais das nossas gentes, que continuam a enfrentar o crónico problema do desemprego e da pobreza e a falta de esperança e perspectivas.


Entendo pois, que a situação social difícil por que atravessa o nosso concelho é fruto da ausência de uma verdadeira política de desenvolvimento regional e de investimentos estruturantes, como é o caso do recorrente adiamento do Cais da Baía do Côrvo, infra-estrutura crucial para o incremento da economia local, sobretudo para o desenvolvimento da agricultura, da pesca, do comércio local e de incentivo ao investimento da nossa grande diáspora. Não se pode olvidar a problemática da protecção civil.

Se é verdade que infra-estruturas como o anel rodoviário, estrada Saltos-Chã das Caldeiras, a modernização do Porto de Vale dos Cavaleiros ou o Centro de Saúde dos Mosteiros representam sinais positivos para a ilha, não é menos verdade que a sua realização chega com muitos anos de atraso. A ilha não aproveitou as oportunidades que se ofereceram ao país, mormente na área do turismo de montanha, onde tem excelentes potencialidades, por falta de um adequado sistema de transportes e unidades hoteleiras de qualidade, capazes de atrair investidores e turistas nacionais e estrangeiros. Acredito que a próxima década deverá ser decisivamente de relançamento da ilha do Vulcão, recuperando definitivamente a saudade e a dignidade perdidas. Trata-se seguramente, de um desafio de todos aqueles que confiam numa ilha pujante e incontornável no contexto do desenvolvimento nacional.

Agostinho Lopes vs. Jos Filomeno

No exacto momento em que aterrava no Aeroporto da Praia, fui confrontado com a notícia da demissão de Agostinho Lopes (expectável desde o momento em que se predispôs para uma candidatura para Coordenador Regional) e o consequente anúncio de candidatura à liderança do MpD em Santiago Sul (Praia, São Domingos e Ribeira-Grande de Santiago).

Este facto político terá causado alguma surpresa junto da opinião pública, pelo facto de se tratar de alguém que até aí era Secretário-Geral do partido, portanto responsável pela organização e coordenação de todas as regiões políticas e Presidente do MpD e candidato a Primeiro-ministro nas últimas legislativas de 2006. É que não tem sido hábito na nossa curta experiência democrática ver alguém com grande responsabilidade demitir-se com apenas cinco meses de exercício do cargo e em vésperas de um decisivo teste eleitoral.

Se por um lado, é compreensível o argumento de Lopes, em como a organização e a vitória na maior circunscrição eleitoral do país se revelam mais importantes para o MpD, na perspectiva do combate político (onde tem Felisberto Vieira como contraponto), por outro lado, esta decisão poderá ser indiciadora de uma relação “fria” e distante da liderança do partido. Ao deixar o cargo de Secretário-Geral, Agostinho Lopes terá querido passar duas mensagens essenciais: Em primeiro lugar, que não está agarrado ao poder e em segundo lugar, a ideia de que valoriza a relação de proximidade com os militantes e munícipes e que portanto se identifica com os seus problemas e desafios.

Profundo conhecedor do MpD, político de seis sentidos e com paciência chinesa (qualidades comprovadas na Convenção de 2004), Lopes quis apresentar-se na sua máxima força, fazendo referência clara a apoios de peso na Comissão Permanente, Grupo Parlamentar e no Município da Praia, nomeadamente Eurico Monteiro, Filomena Delgado, José Luís Livramento, João Cabral Semedo, Clemente Garcia, Victor Coutinho ou Gilberto Silva. O Ex. Presidente do MpD deixou claro que a sua estratégia será dirigida para o exterior, privilegiando uma agenda para a região em termos da sua estratégia de desenvolvimento e de um combate forte ao adversário, tendo definido a meta de treze deputados nas legislativas de 2011.

José Filomeno Monteiro foi o primeiro a manifestar a sua disponibilidade para liderar o maior partido da oposição no mais importante círculo eleitoral do país. Para muitos seria o único candidato ao cargo, uma vez que os seus principais concorrentes já estariam a desempenhar outros cargos de responsabilidade, nomeadamente Ulisses Correia e Silva na Câmara da Praia, Agostinho Lopes na Secretaria-Geral do partido, Fernando Elísio Freire na liderança parlamentar ou Eurico Monteiro na Assembleia Nacional. Mas, na política o que hoje nos parece verdade pode transformar-se numa grande mentira amanhã.

Diplomata de carreira, homem de cultura, poliglota de primeira linha, comunicador nato e dirigente próximo da actual liderança do partido, José Filomeno aparece claramente (embora sem o aval público do Líder do MpD) como o candidato da “linha oficial”, embora não queira assumir esse rótulo. Aliás, estou convencido que Carlos Veiga, pela sua experiência e pelos objectivos que tem pela frente não dará qualquer tipo de sinal nas eleições regionais do partido, que se realizam até o mês de Maio. Veiga estará consciente do seu papel de moderador e de garante da necessária coesão e estabilidade internas, capaz de levar o partido na sua máxima força para as legislativas de 2011.

Monteiro já fez saber igualmente, que conta com importantes apoios na região, como são os casos de Ulisses Correia e Silva, Manuel de Pina, Fernando Jorge Borges, Olavo Correia e de outros importantes dirigentes, sobretudo da juventude do partido como Alcides de Pina, Carlos Monteiro, Milton Paiva ou Luís Carlos Silva, sem contar com a maioria dos coordenadores dos bairros e secções.

Independentemente dos apoios que cada um possa obter, o facto é que se está perante um duelo de gigantes. Entendo, enquanto dirigente nacional do partido, que a disputa deverá situar-se sobretudo no campo da confrontação de ideias e de projectos para a região e para a organização do partido, deixando de lado questões menores de intriga e maledicência política, que em nada contribuem para o aprofundamento do debate democrático e para a identificação de soluções de governação do país. Todos devem aproveitar esta oportunidade, para mostrar aos militantes e aos cabo-verdianos que é possível uma disputa democrática saudável no partido, colocando-se ao lado dos problemas das pessoas. O MpD ganhará sempre que conseguir mostrar aos cabo-verdianos o seu espírito de serviço público e de partido comprometido com os grandes desafios do país. 

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